Por um governo de esquerda e para os brasileiros
O relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, em 2004, nos alerta para o fato de, nos últimos 25 anos, o atrelamento aos capitais internacionais de curto prazo, pela opção de política econômica de perfil neoliberal adotada na década de 90, só ter contribuído para estagnação da renda per capita, ou seja, para o predomínio da pobreza e da desestruturação social.
O governo federal tem optado por uma agenda sem repercussão na dívida social. Exemplo disso é a não desapropriação de 36 milhões de hectares com a finalidade de distribuir terra para um milhão de famílias, a um custo de R$ 24 bilhões. A proposta foi rejeitada pelo governo com a justificativa de que não havia verba suficiente, reduzindo-se a meta para 400 mil famílias a ser assentadas. Ao mesmo tempo, o Ministério da Fazenda aumentou meta do superávit primário com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para R$ 56, 9 bilhões.
Gerando problemas de concentração de terra, de água e de renda, o agronegócio segue ampliando prejuízos socioambientais altíssimos, voltado para exportação e gerando divisas para uma elite privilegiada. As monoculturas irrigadas, por exemplo, consomem 70% da água doce do país. Desumanamente, as máquinas substituem a mão-de-obra no campo, num país cujo maior problema é o desemprego.
No Ceará, e em outros estados onde se dá a expansão da agricultura empresarial, cresce tanto a violência privada quanto a ação repressiva do Poder Judiciário. No economês do crescimento, as estimativas do Instituto de Previdência Econômica e Aplicada (IPEA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam 5,1% de crescimento econômico no Brasil, de 2004 para 2005. Cabe perguntar então nesse momento o que nosso governo tem feito para diminuir as desigualdades sociais.
O governo federal não pode se dar ao luxo de e se satisfazer apenas com os resultados frios e distantes dos números. Precisamos colocar os ganhos econômicos a serviço de uma agenda social pertinente, que possa alcançar as comunidades e setores excluídos, na geração das desigualdades. Eis o dever de casa de um governo de esquerda, que não pode abrir mão de fomentar uma educação ampla e transformadora, missão para que se construa uma sociedade justa, solidária e verdadeiramente cidadã.
Devemos priorizar o combate intransigente à corrupção dos modelos viciados ligados à política de balcão de negócios. O projeto que a esquerda elegeu deve ser colocado em pauta para que nossas idéias não representem um amontoado de palavras soltas.
Nesse sentido, temos alertado aos companheiros e companheiras para a importância da valorização cotidiana da luta, mobilizando a sociedade, ocupando o espaço político com o debate conseqüente. Faz-se necessário que tal movimentação traduza os anseios e as necessidades das comunidades, redefinindo valores pela experiência dos sobreviventes e não pela sedução “democracista” dos interesses das elites brasileiras. A esperança precisa vencer o medo de forma constante e tal batalha deve ser enfrentada com crença e ousadia, que devem ser sempre renovadas.
Foi com esse sentimento de resistência, na obstinação de um novo tempo para Fortaleza, que a companheira Luizianne Lins elegeu-se prefeita da capital cearense. Vitória do povo nas urnas quando tudo parecia previamente resolvido. A palavra final continua e deve continuar sendo do povo corajoso de Fortaleza.
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