Crescimento desigual e combinado

23 de março de 2005 Crescimento desigual e combinado

No ano 2000, Fortaleza concentrava 43% do Produto Interno Bruto – PIB do Ceará, seguido de Maracanaú com 8% e Sobral com 3%. Nesse contexto de primazia econômica, o setor terciário da capital se expande impulsionado fortemente pelas atividades do turismo e do setor imobiliário, enquanto suas atividades industriais se descentralizam na direção de Maracanaú, Eusébio e Horizonte.

Fortaleza não se constituiu como uma cidade tipicamente industrial na sua formação urbana, mas progrediu na sua vocação de cidade comercial, hoje com potencial para consolidar-se como uma cidade de serviços, com destaque para as atividades turísticas, de lazer e entretenimento.

Pode-se mensurar isso, por uma aproximação, ao se observar o consumo de energia elétrica das atividades econômicas na capital. Analisando-se o Anuário Estatístico do Ceará dos anos 1985 e 2000 verifica-se que a classe de consumo comercial de energia elétrica cresceu 172%, superando as classes residencial e industrial cujos crescimentos foram 165% e 52%, respectivamente.

Logo, podem-se deduzir dois movimentos simultâneos: de um lado, a ampliação do setor terciário a partir da atração de novas empresas e expansão econômica das existentes que se concentraram no Centro da cidade e no subcentro da Aldeota; de outro lado, o deslocamento de industrias para outros municípios.

Em 2003, um indicador do porte econômico desses dois bairros é o fato de juntos concentrarem 30% do estoque de emprego formais em atividades terciárias, de acordo com Ministério do Trabalho e Emprego – MTE/Rais. Os bairros Meireles, Joaquim Távora, Cocó, Messejana, Alagadiço Novo, Parangaba, Benfica e Barra do Ceará completam o grupo dos dez bairros com maior concentração desse tipo de emprego, evidenciando que o setor centro-leste de Fortaleza aglomera o maior número de atividades terciárias.

Além dessa condição de pólo de oportunidades de negócios, nesse setor concentram-se preponderantemente as camadas de alta da renda e as melhores condições de infra-estrutura e equipamentos da cidade. Na direção oeste, a cidade expande-se produzindo periferias urbanas subequipadas onde mora a grande maioria da população.

A produção dessas periferias aumenta a distância entre moradia e trabalho, a extensão das linhas de ônibus e as redes de água, esgoto, energia, comunicação etc., têm que cobrir grandes extensões da área urbana.

A cidade equipada e a subequipada convivem de forma desigual e combinada, sem antagonismos. A desordem espacial desse processo é aparente, pois os aspectos ”desfuncionais” do desenvolvimento desigual contribuem com a acumulação capitalista. A produção de periferias desprovidas de infra-estrutura e equipamentos é um dos meios para tornar o investimento de capital mais lucrativo em outras áreas da cidade.

A superação desse modelo perverso de crescimento urbano parece ser um objetivo comum do campo de forças políticas e sociais de Fortaleza. como fazer isso, eis a questão? Quem será obrigado a abrir mão de vantagens e quem será beneficiado pelo novo modelo? Essas são indagações que devem orientar um amplo debate sobre a gestão e o planejamento da cidade, em especial no processo de elaboração do Plano Plurianual, o PPA.

Joaquim Cartaxo

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