Ética da responsabilidade

14 de fevereiro de 2006 Ética da responsabilidade

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao afirmar desastradamente que a “ética do PT é roubar”, nos deu, pelo menos, a oportunidade de refletirmos um pouco acerca do verdadeiro significado da ética e de sua aplicabilidade, principalmente no ambiente da política partidária e das gestões públicas. Inicialmente, é preciso dizer que a ética é fundamental para o equilíbrio das relações humanas, porque é a parte da filosofia que estabelece os princípios e valores que orientam as pessoas e as sociedades.

Enquanto esteve no poder, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso arrogou para si a aplicação do conceito da chamada “ética da responsabilidade” moldado pelo pensador alemão Max Weber. Tal formulação afirma que um líder possui paixão, mas também equilíbrio. Mas, antes de tudo, é responsável pelas conseqüências das suas ações, isto é, para o homem de Estado, o que importa é a certeza do resultado.

Assim, muitos weberianos, como FHC, sustentam que a omissão é uma possibilidade plausível na ação “responsável” de um líder político. Foi norteado por essa premissa, que Fernando Henrique Cardoso fechou os olhos, por exemplo, para a corrupção que se instalou em seu governo, sobretudo nos episódios que envolveram o processo de privatização das estatais, na distribuição das verbas do Proer para o sistema financeiro, que ensejou a criação da CPI do Banestado, e as denúncias de compra de votos para a aprovação, no Congresso Nacional, do projeto de reeleição .

Por outro lado, o Ministro da Justiça, Márcio Tomaz Bastos, ao comentar sobre a declaração do ex-presidente, disse que FHC usou uma ética relativa para atacar o PT. De fato, as críticas de Fernando Henrique não encontram coerência à medida que o governo do tucano não foi, definitivamente, exemplo de combate à corrupção.

A prova é que, recentemente, a Justiça condenou a oito anos de prisão por gestão temerária dos recursos públicos, sete ex-diretores do Banco do Brasil, indicados por FHC, em sua gestão. Os ex-diretores emprestaram dinheiro à construtora Encol (falida em 1999), sem a exigência das garantias legais necessárias à operação, o que gerou um prejuízo enorme aos cofres da instituição.

Portanto, o ex-presidente errou ao não perceber que entre ética e política não há respostas fáceis. Há mesmo quem considere que esta é uma falsa questão, em outras palavras, que ética e política são como a água e o vinho: não se misturam. Quem pensa assim, como FHC, adota uma postura que nega qualquer vínculo da política com a moral: os fins justificam os meios.

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