Comparação com FHC vai reeleger Lula, diz líder do PT na Câmara

16 de janeiro de 2006 Comparação com FHC vai reeleger Lula, diz líder do PT na Câmara

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), disse, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, no último sábado, que comparações entre o governo atual, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), vão levar à reeleição de Lula. O líder petista defendeu uma aliança de apoio à reeleição do presidente. A seguir, a íntegra do texto:

Líder do PT defende ofensiva sobre ministros aliados e diz que comparação com FHC vai reeleger Lula

O PT vai cobrar apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dos setores do PMDB integrantes da base aliada do governo federal. O líder petista na Câmara, Henrique Fontana (RS), quer procurar os ministros peemedebistas para pedir empenho na construção de uma aliança em torno de Lula. “Esperamos apoio à reeleição do presidente”, afirmou o parlamentar em entrevista ao Correio. “Esse assunto tem de ser tratado com os ministros do PMDB”, explicou. Fontana assumiu a liderança no auge das denúncias contra o PT. Entrou no lugar do então deputado Paulo Rocha (PA), afastado por envolvimento com Caixa 2. Desde então, o parlamentar gaúcho empenhou-se em unificar a bancada na Câmara. Passado o pior momento da crise, o líder preocupa-se em defender o partido dos ataques da oposição e aposta nas comparações com o governo Fernando Henrique Cardoso para reeleger Lula.

Na entrevista, assegurou que o PT tem munição para enfrentar os adversários na possível guerra de denúncias da campanha eleitoral. O líder petista elogia o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, como alternativa para vice de Lula, mas diz que ainda é cedo para definir o companheiro de chapa do presidente. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O senhor acha possível o presidente Lula ter apoio do PMDB para a reeleição?

Fontana – Devemos procurar os setores do PMDB que estão no governo. Esse assunto tem de ser tratado com os ministros do PMDB, de quem esperamos apoio à reeleição do presidente. A divisão do PMDB é pública e notória. Um setor quer candidatura própria, outro apóia a aliança do PSDB com o PFL e outros estão com Lula. Conversei, por exemplo, com o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) e ele me disse que está firme com o presidente. O presidente quer o ministro Ciro Gomes como vice na chapa da reeleição. O que o senhor acha? Fontana – Ciro é um excelente nome pelas qualidades que ele tem, por pertencer a umpartido da aliança do governo, mas ainda é cedo para se decidir quem será o candidato a vice-presidente.

Com que cara o PT vai para as eleições de 2006?

Fontana – O sentimento é duplo. Primeiro, todos nós carregamos uma marca de tristeza com a crise que enfrentamos. A imensa maioria de nós, construtores do PT, simpatizantes e eleitores, jamais concordou com a constituição de Caixa 2. Ao mesmo tempo, é um sentimento de esperança e de alegria. Ao contrário do que pretendiam setores conservadores, nosso partido inicia o ano com muita vitalidade. Sofremos o maior bombardeio que um partido ou um governo sofreu nas últimas décadas.

Mas os ataques não decorrem dos erros do partido?

Fontana – Estamos vivendo um ambiente de denuncismo alimentado por interesse eleitoral, especialmente, pelo PSDB e PFL. Muitos problemas não nasceram com o governo Lula. Hoje, por exemplo, está claro que ao longo dos últimos anos foram feitos contratos superfaturados para o serviço do correio aéreo noturno. Contratos que existiam no governo que nos antecedeu foram suprimidos num período do governo Lula e, infelizmente, voltaram. Isso nós temos de reconhecer.

E o Caixa 2 do PT?

Fontana – O partido praticou Caixa 2 por intermédio de seu ex-tesoureiro (Delúbio Soares), o que não é novidade na política brasileira. Temos de pedir desculpas por ter feito esse Caixa 2, que é ilegal, mas o farisaísmo, o cinismo e a hipocrisia dos nossos adversários não podem ser tolerados. Mas não podemos admitir que o PFL e o PSDB queiram cassar o registro do PT e não queiram investigar os Caixas 2 feitos por eles. Por exemplo, na campanha à reeleição do Fernando Henrique, na campanha do José Serra ou o Caixa 2 do Eduardo Azeredo. Devemos, sim, fazer uma reforma política para acabar com essa prática.

E como fica o passado?

Fontana – Precisamos ter equilíbrio para que cada ilegalidade cometida tenha um tipo de punição. Não pode caber uma execração pública do PT, nem a negativa de investigar as campanhas dos nossos adversários. Um erro não justifica o outro, mas também não é razoável que proponham a criminalização de todo o PT ou a tentativa de passar a imagem de que o governo Lula seria envolvido com corrupção. Isso não é verdade. O que mais queremos é comparar dois períodos de governo nas questões éticas e nas realizações. Nossos críticos de hoje não podem esconder o que fizeram quando governaram. Eu pergunto a José Serra se ele não viu a corrupção que havia na compra de hemoderivados.

O senhor acha que o PT reagiu de maneira correta com relação aos envolvidos com Caixa 2?

Fontana – Acho que sim. O partido expulsou das suas fileiras o maior responsável por essa ilegalidade grave (Delúbio Soares). Constituímos uma nova direção, o partido está corrigindo procedimentos. Peço que a opinião pública analise o PT por tudo o que o partido fez nesses 25 anos de história. A régua usada para medir o comportamento do PT é diferente da que é usada em relação a outros grupamentos humanos. O PT tem milhares de líderes, no Brasil inteiro, absolutamente comprometidos com a ética na política.

Até agora, o partido só puniu Delúbio Soares com expulsão. Isso é suficiente?

Fontana – Nesta régua que mede a capacidade do partido se autodepurar e de promover punições, o PT também está acima dos outros partidos. O PSDB não disse nada sobre o senador Eduardo Azeredo.
Mas eles afastaram Azeredo da presidência do PSDB…
Fontana – Demoraram bastante. Esse tipo de processo não é fácil. Cada companheiro vai analisar seus erros e seus acertos. Na condição de líder, não quero me colocar na condição de juiz de determinadas circunstâncias. Ao contrário do que tentam dizer alguns adversários nossos, pela direita e pela esquerda, o PT não acabou, não é um partido de corruptos. Não é um partido perfeito, como nenhum é.

O que leva o senhor a acreditar que os brasileiros vão reeleger Lula?

Fontana – Estamos fazendo um governo vitorioso. Ao contrário do que dizem PSDB e PFL, não assumimos o Brasil em céu de brigadeiro. O país havia quebrado duas vezes, estava com pouca credibilidade internacional, tinha perdido a capacidade exportadora, estava com déficit na balança comercial e a inflação ameaçava chegar aos 30% em 2003. Pegamos um país com um enorme déficit social, uma carência brutal de investimentos em infra-estrutrura. Acho interessante a análise do PSDB e do PFL sobre taxa de juros. Acham que não têm nada com a dívida que eles fizeram. Eles pegaram o país com a dívida de 28% do PIB, elevaram para 58% e acham que isso não incide no mercado financeiro.

O que vocês vão apresentar na campanha?

Fontana – Temos primeiro de reivindicar o balanço positivo da nossa política econômica. O governo anterior conseguiu um crescimento que é metade do que nós estamos tendo. Estamos pagando a dívida e gerando empregos num ritmo 12 vezes melhor do que eles. São 106 mil empregos por mês, contra 8 mil do governo anterior. Minha torcida é para que eles apresentem o Fernando Henrique como candidato. Isso tornaria mais nítida a comparação. Nós nacionalizamos a indústria naval. Se o governo anterior tivesse feito isso, certamente teríamos menos gente desempregada hoje. No nosso governo, o BNDES passou a financiar com grande prioridade a indústria nacional e, não mais, as privatizações. Também triplicamos os recursos para a agricultura familiar, um forte impacto na geração de empregos. Mas a queda do PIB no terceiro trimestre de 2005 não é um sinal de

Que as coisas vão mal?

Fontana – Governar é acertar e errar. A bancada, por amplíssima maioria, pede calibragem na política econômica. Tem de reduzir a taxa de juros com mais rapidez. Antes que alguém diga que é uma questão técnica, digo que ela também é política. Com responsabilidade, nós precisamos ampliar os investimentos públicos em infra-estrutura, sob pena de não poder crescer. Os “professores da competência” trancaram o crescimento do país porque não tinha energia elétrica. Em nosso governo, 3 milhões de pessoas ultrapassaram para cima a linha da miséria. Durante os 10 anos do reinado tucano-pefelista, só teve gente que atravessou para baixo da linha.

O que mais ainda vai ser feito?

Fontana – Se conseguirmos elevar o salário mínimo a R$ 350 este ano, por exemplo, teremos mais 10% de ganho real em relação ao ano passado, quando já tivemos 10% de ganho. Neste ritmo, chegaremos ao final do governo com o maior valor de compra do salário mínimo dos últimos 20 anos. O cidadão vai pensar se quer voltar ao passado elegendo Serra, FHC ou Alckmin. Na agricultura familiar, por exemplo, os recursos voltariam de R$ 9 bilhões para R$ 2,5 bilhões. Acho que a maioria vai optar por seguir em frente e superar os limites que o governo Lula ainda enfrenta.

O PT tem munição para enfrentar uma campanha cheia de denúncias?
Fontana – Bota munição nisso. O país conhece a história do governo Fernando Henrique. Eles falam agora em maior escândalo de corrupção da história, mas não há escândalo maior do que o tráfico do processo de privatização no Brasil. Não há termo de comparação com o Caixa 2 e o repasse ilegal de recursos para acordos eleitorais. Mas isso não diminui minha indignação com o erro e a ilegalidade que foram cometidas por nós. Devemos pedir desculpas e não repetir mais. Precisamos acabar com a hipocrisia com a aprovação da reforma política. Hoje o abuso do poder econômico é legal. O candidato que representa interesses econômicos poderosos pode arrecadar 10 vezes mais do que outro candidato.

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