Amantes das baladeiras

11 de outubro de 2005 Amantes das baladeiras

Fui daqueles meninos urbanos muito velados pela educação repressora. Logo pouco brinquei de pião, arraia e baladeira, mas sei que essas são um inferno para os donos de vidraças – ou governantes.

Noto, que há um certo desconforto de políticos de esquerda e até de lideranças de movimentos sociais em ser ”vidraça”. Tem sido assim durante todo o governo Lula, o que contribuiu para a debandada de aves do poleiro petista ontem e agora – dizem que por coerência, mas parece ser por subsistência.

Essas aves da arribação, ao contrário dos pássaros comuns não temem as baladeiras – ao contrário, às amam – temem, isso sim, ser ”vidraça”. Na caça à notoriedade dessas ”aves” algumas coisas me preocupam: partidos históricos que aceitam próceres de diferentes matizes ideológicos para saírem do nanismo – sem considerar as biografias dos seus ungidos; padres que confundem ”desobediência civil” com chantagem político-religiosa; fechamento de vias públicas por movimentos sociais (como demonstração de força), quando suas teses já estão sendo absorvidas pelos órgãos competentes; parlamentares que usam as siglas quando lhes é cômodo e às abandonam quando lhes é conveniente.

Friso algumas questões afetas à questão agrária com o intuito de reflexão: I. A forma respeitosa como os sem-terra vem sendo tratados no atual governo se assemelha aos embates com os governos anteriores? II. Vale a pena propugnar por uma reforma agrária que despreze as experiências de produtividade rural já desenvolvidas pelos pequenos produtores, mesmo sem o apoio do Estado e dos movimentos sociais? III. É impossível instalar projetos de reforma agrária nas áreas perenizadas pela transposição do rio São Francisco?

Incomoda notar que há muitos amantes de baladeiras travestidos de ecologistas ou estrategistas. Para esses vale o discurso fácil – que não explica como reajustar o salário mínimo em patamares ideais; como mudar a qualidade de vida da população; porque ficar de braços cruzados quando milhões de metros cúbicos d’água vão para o mar.

Por outro lado é triste ouvir, de vizinhos do Incra/CE, transeuntes e trabalhadores rurais não organizados, que são contra o modo etílico que algumas lideranças encontraram para esperar o trâmite das negociações em favor das imissões de terra e liberação de créditos para a reforma agrária, na recente ocupação do órgão.

Leonardo Boff assevera que ”o desenvolvimento vem do capitalismo… A sustentabilidade vem do mundo da ecologia… os dois termos se rejeitam mutuamente”.Boff, a quem admiro, é filósofo, não técnico ou governante. Sua fala é reflexiva não taxativa. Por outro lado, resta saber: quais são as metas da utopia socialista dos amantes de baladeiras? É possível ser digno e ético enquanto esses socialistas utópicos resolvem suas questões existenciais?

*Artigo publicado na edição do dia 11 de outubro no Jornal O Povo

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